
Ela era uma menina de classe média, quando a classe média ainda existia... Filha única, seus pais sempre se preocuparam em lhe oferecer uma boa educação. Estudava nos melhores colégios, tocava piano, dançava... Tudo o que uma menina de boa família tinha direito na época.
Aos 18 anos o diploma de magistério. Orgulho de todos. O trabalho, mesmo sem precisar. Ela não gostava de depender dos pais.
Era bonita, vestia-se bem, era vaidosa, apesar de gordinha. Querida por todos, tinha muitos amigos, namorados não faltavam. Uma família unida, amorosa, estavam sempre juntos.
Uma noite, quando em visita aos avós no interior, conheceu um rapaz. Lindo, simpático, falante. Amor à primeira vista? Literalmente, pois antes mesmo de conversarem ela disse às amigas.
–“Eu vou me casar com aquele moço!”
Quatro meses depois ficaram noivos, mais cinco e se casaram. Casaram?
Foram nove meses muito atribulados. Uma "gestação" de alto risco.
Aquele rapaz bonito não trabalhava, era agressivo e a dominava completamente. E numa noite, depois de (mais) uma briga e de desmanchado o noivado, o moço irrompeu na festa de casamento da melhor amiga dela vestindo bermudas e chinelos e a levou embora. Depois de muita conversa, disse a ela que se não ficasse com ele naquele momento, não o veria nunca mais. Não havia nenhuma necessidade disso, pois apesar da família ser contra, respeitava a decisão da filha. Mas ela sempre cedia às chantagens e ficou.
Os pais, os amigos, todos tentaram demovê-la daquela loucura, mas em vão. Ela abandonou tudo. A família, o conforto, os amigos para se dedicar àquele que pensava amar. Um ano depois, o primeiro filho, dois anos e veio o segundo. Quando soube que ia ser pai pela primeira vez, alguma coisa começou a mudar. Parecia que não tinha gostado muito da idéia, sua agressividade aumentou. O segundo? Disse que não era dele. Separaram-se...
Ela voltou a trabalhar, estava refazendo sua vida, seis meses se passaram e ele não a deixou em paz, até que novamente cedeu a seus apelos amorosos. E novamente ela deixou tudo para traz. A família e os amigos que tanto a apoiaram. E se foi com ele e agora com dois filhos de dois e um ano. E agora para longe. Inevitável uma nova gravidez. Desta vez veio a mais linda menina do mundo. Moravam os cinco numa casinha de três cômodos. Sem piso e sem vidro nas janelas. E ela nunca reclamou. Nessa altura, já nem de longe lembrava aquela menina de antes. Lavava roupas no tanque. Quantas fraldas! E ele, finalmente arrumou um emprego! Trabalhava como vendedor. Viajava a maior parte do tempo e ela criava sozinha seus três filhos. Três bebês.
Seriam quatro no ano seguinte, quando ele trouxe uma notícia que a feriu quase que mortalmente. Quase não, feriu sim mortalmente porque só o físico ficou. A alma não quis mais viver. Ele tinha tido um filho com outra mulher. Depois de tudo, ele a havia traído sem remorsos.
A partir daí, ela sofreu todo tipo de agressões. Físicas, morais. Não mais se abalava, parecia que não era ela quem estava ali. Passava por tudo aquilo impassível. Sempre machucada, olho roxo, boca cortada, cicatrizes por todo corpo... e no coração. Na pior delas, ele derramou sobre ela um litro de álcool e riscou o isqueiro. Hospital, três meses, quase quatro. Quase a morte. Mais cicatrizes, mais dores. Mesmo assim, ela continuou ali, até que ele trouxe a “outra” e o filho para perto e foi morar com eles. Ainda depois disso, as agressões continuaram até que seu filho mais velho, agora com doze anos pediu socorro. Gritou para que ela fizesse alguma coisa. Por ele, pediu ajuda e acabou livrando-se daquele jugo. O apoio da família. Mais uma vez o trabalho. As coisas agora já não eram tão fáceis, mas precisava ir em frente, tinha seus filhos, seu motivo para continuar.
Muitos anos se passaram. Ela não mais o viu. Com dificuldade se refez. Concentrou-se na criação dos filhos, esqueceu da mulher. Da mulher que apesar do tempo e das cicatrizes ainda tinha sua beleza.
O tempo passou, os filhos cresceram e ela de repente, sem aviso, encontrou o amor. Não o viu nem ouviu, mas reconheceu de pronto seu amor de todas as vidas. A princípio, sentiu algo diferente... Não queria, não acreditava... Mas com o tempo, aquele sentimento foi se enraizando. Enfim, um olhar... Aquele olhar lhe deu a certeza de que sua alma voltaria a viver. Uma dificuldade imensa em crer, em confiar, mas não pode resistir. Um amor complicado, como tudo até hoje, mas desta vez com toda a certeza, o grande amor da sua vida.
Os anjos disseram amém...
Aos 18 anos o diploma de magistério. Orgulho de todos. O trabalho, mesmo sem precisar. Ela não gostava de depender dos pais.
Era bonita, vestia-se bem, era vaidosa, apesar de gordinha. Querida por todos, tinha muitos amigos, namorados não faltavam. Uma família unida, amorosa, estavam sempre juntos.
Uma noite, quando em visita aos avós no interior, conheceu um rapaz. Lindo, simpático, falante. Amor à primeira vista? Literalmente, pois antes mesmo de conversarem ela disse às amigas.
–“Eu vou me casar com aquele moço!”
Quatro meses depois ficaram noivos, mais cinco e se casaram. Casaram?
Foram nove meses muito atribulados. Uma "gestação" de alto risco.
Aquele rapaz bonito não trabalhava, era agressivo e a dominava completamente. E numa noite, depois de (mais) uma briga e de desmanchado o noivado, o moço irrompeu na festa de casamento da melhor amiga dela vestindo bermudas e chinelos e a levou embora. Depois de muita conversa, disse a ela que se não ficasse com ele naquele momento, não o veria nunca mais. Não havia nenhuma necessidade disso, pois apesar da família ser contra, respeitava a decisão da filha. Mas ela sempre cedia às chantagens e ficou.
Os pais, os amigos, todos tentaram demovê-la daquela loucura, mas em vão. Ela abandonou tudo. A família, o conforto, os amigos para se dedicar àquele que pensava amar. Um ano depois, o primeiro filho, dois anos e veio o segundo. Quando soube que ia ser pai pela primeira vez, alguma coisa começou a mudar. Parecia que não tinha gostado muito da idéia, sua agressividade aumentou. O segundo? Disse que não era dele. Separaram-se...
Ela voltou a trabalhar, estava refazendo sua vida, seis meses se passaram e ele não a deixou em paz, até que novamente cedeu a seus apelos amorosos. E novamente ela deixou tudo para traz. A família e os amigos que tanto a apoiaram. E se foi com ele e agora com dois filhos de dois e um ano. E agora para longe. Inevitável uma nova gravidez. Desta vez veio a mais linda menina do mundo. Moravam os cinco numa casinha de três cômodos. Sem piso e sem vidro nas janelas. E ela nunca reclamou. Nessa altura, já nem de longe lembrava aquela menina de antes. Lavava roupas no tanque. Quantas fraldas! E ele, finalmente arrumou um emprego! Trabalhava como vendedor. Viajava a maior parte do tempo e ela criava sozinha seus três filhos. Três bebês.
Seriam quatro no ano seguinte, quando ele trouxe uma notícia que a feriu quase que mortalmente. Quase não, feriu sim mortalmente porque só o físico ficou. A alma não quis mais viver. Ele tinha tido um filho com outra mulher. Depois de tudo, ele a havia traído sem remorsos.
A partir daí, ela sofreu todo tipo de agressões. Físicas, morais. Não mais se abalava, parecia que não era ela quem estava ali. Passava por tudo aquilo impassível. Sempre machucada, olho roxo, boca cortada, cicatrizes por todo corpo... e no coração. Na pior delas, ele derramou sobre ela um litro de álcool e riscou o isqueiro. Hospital, três meses, quase quatro. Quase a morte. Mais cicatrizes, mais dores. Mesmo assim, ela continuou ali, até que ele trouxe a “outra” e o filho para perto e foi morar com eles. Ainda depois disso, as agressões continuaram até que seu filho mais velho, agora com doze anos pediu socorro. Gritou para que ela fizesse alguma coisa. Por ele, pediu ajuda e acabou livrando-se daquele jugo. O apoio da família. Mais uma vez o trabalho. As coisas agora já não eram tão fáceis, mas precisava ir em frente, tinha seus filhos, seu motivo para continuar.
Muitos anos se passaram. Ela não mais o viu. Com dificuldade se refez. Concentrou-se na criação dos filhos, esqueceu da mulher. Da mulher que apesar do tempo e das cicatrizes ainda tinha sua beleza.
O tempo passou, os filhos cresceram e ela de repente, sem aviso, encontrou o amor. Não o viu nem ouviu, mas reconheceu de pronto seu amor de todas as vidas. A princípio, sentiu algo diferente... Não queria, não acreditava... Mas com o tempo, aquele sentimento foi se enraizando. Enfim, um olhar... Aquele olhar lhe deu a certeza de que sua alma voltaria a viver. Uma dificuldade imensa em crer, em confiar, mas não pode resistir. Um amor complicado, como tudo até hoje, mas desta vez com toda a certeza, o grande amor da sua vida.
Os anjos disseram amém...
Lygia